quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ambientalistas protestam em Salvador em memória das vítimas do Césio 137


Pior acidente radiológico do Brasil completa 20 anos

Por Erick Issa

Ambientalistas do Greenpeace realizaram, na manhã desta segunda-feira (10), ato na Praça Municipal de Salvador para lembrar os 20 anos da maior tragédia radiológica em área urbana da história, ocorrida em Goiânia no dia 13 de Setembro de 1987. Cerca de 30 pessoas vestidas de preto deitaram no chão da praça para simbolizar a morte das vítimas do Césio 137. O movimento contou com a participação de moradores do município de Caetité que pedem o fim da exploração de Urânio na região.

Em 1987 dois catadores encontraram um pó azul que brilhava no escuro. Fascinados com a situação, mostraram aos familiares o pó desconhecido e estranho, sem saber que se tratava do Césio 137. Descoberta a tragédia, o governo mandou que isolasse a área. Por não possuírem preparo adequado, os médicos, bombeiros e policiais enviados ao local foram contaminados do mesmo modo, tornando-se, também, vítimas. As autoridades mandaram destruir todos os pertences das vítimas gerando 20 toneladas de lixo radioativo. “Sessenta pessoas morreram vítimas do Césio e cerca de 6000 sofrem suas conseqüências”, afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace.

O movimento escolheu a Bahia para iniciar os atos de protestos, que acontecerão também em outras capitais do país, por ser aqui o começo do ciclo de Urânio. “Na Bahia há negligência com os moradores e trabalhadores de Urânio da região de Caetité, o que muito lembra o ocorrido com as vítimas do Césio”, complementa Baitelo.

O manifesto contou também com o apoio do Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA), da Associação das Vítimas do Césio 137 (AVICÉSIO) e do Instituto Paulo Jackson. Os grupos lutam para que o Governo Federal não retome o projeto nuclear brasileiro com a construção da Usina Angra 3. “Queremos que o dinheiro seja usado para investir em energias limpas como a Biomassa e a Solar. Não iremos aceitar projetos que ponham em risco a população brasileira”, comenta Baitelo.

O Governo de Goiás paga uma pensão às vítimas do Césio, que nunca receberam nenhum apoio das autoridades federais. Questionam-se os critérios para pagamento de pensões, pois pessoas atingidas diretamente não estão classificadas como vítimas, o que revolta ambientalistas de todo país. “Nós sofremos com problemas de pele, obesidade, preconceito, câncer e tantos outros males, mas nunca fomos indenizados moralmente. O governo tinha suspendido até os remédios, mas voltou a dar depois que colocamos a boca no mundo”, indigna-se Suely Silva, representante das vítimas do Césio.

Exploração de Urânio – Na manifestação, também ficou explícita a preocupação dos ambientalistas com a exploração de Urânio na cidade de Caetité, situada no sudoeste da Bahia. O Grupo ambientalista da Bahia carrega a bandeira da “Não exploração nas usinas da região”. “O Urânio de Caetité tem que ficar embaixo da terra, este é o nosso lema”, conta Lílite Cintra, representante do GAMBA.

Moradores de Caetité, preocupados com a elevação de mortes por Câncer na região, reforçaram o grupo de manifestantes que chamava a atenção dos que passavam em direção ao Elevador Lacerda. “Estamos aqui para cobrar uma postura mais clara do Governo do Estado, as pessoas em Caetité estão morrendo de Câncer”, exclamou a moradora da região, Jerusa Novato.
O Governo do Estado informou, através de Alberto de Freitas, da Agência Geral de Comunicação (AGECOM), que desconhece a manifestação e que a questão da exploração é monopólio do Governo Federal. Tal informação contrasta com as declarações dadas por moradores de Caetité que afirmam que o Governo da Bahia é o único responsável pela licença concedida para exploração do Urânio. “Até a primeira-dama, Dona Fátima Mendonça, cobrou ações por parte do governador sobre a questão. Ela afirmou que Wagner deve satisfações ao povo da Bahia que o elegeu, e não ao Lula, não tendo porque temer”, empolga-se Jerusa. Sob aplausos, a manifestação foi encerrada. Foram distribuídos informativos a fim de alertar a população para os perigos da radioatividade, não só em Goiás, mas em todo o Brasil. A expectativa é que o movimento ganhe força em todas as partes do país para chamar atenção do Governo Federal, para que este possa abandonar de vez a retomada do projeto nuclear brasileiro.