segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Moradores do Imbuí protestam contra desmatamento da mata atlântica


Obra da Faculdade Área 1 gera tumulto entre populares

Por Erick Issa e Lorena Nascimento


O novo campus da Faculdade de Ciência e Tecnologia (Área 1) está sendo construído em uma área de reserva de Mata Atlântica na Avenida Paralela, próximo ao bairro do Imbuí. A construção que teve início no começo de 2007 vem gerando conflito entre as partes. Enquanto estudantes comemoram. Ambientalistas e moradores da região alegam sofrer com inúmeros problemas, como a proliferação de mosquitos, desmatamento e a falta de privacidade.

Para possibilitar a construção da nova sede da faculdade, que contará com cerca de 10.000M², foram desmatados arbustos e árvores que fazem parte da reserva de mata atlântica da região de Pituaçu. A nova sede localizada próximo ao Hipermercado Extra, contará com 08 pavimentos, quadra de esportes e área para lazer. “O campus do Iguatemi será desativado, pois ele não pertence à faculdade e seu aluguel é caríssimo, cerca de 30 mil reais por mês”, informa a funcionária do Setor de Marketing, Fernanda Abreu.

A maioria dos estudantes têm se mostrado favorável a mudança do campus, já que este proporcionará maior conforto, com salas mais amplas e um estacionamento próprio. Porém a mudança não agrada a todos. “Minha expectativa é péssima, pois este campus é mais longe, ele será bom para quem tem carro”, reclama o estudante de Engenharia da Produção, Alexandre Carvalho.

Os moradores do Conjunto Villa do Imbuí protestam desde o início das obras. “Ligamos para os órgãos responsáveis e para a imprensa, mas de nada adiantou. A obra já está sendo concluída e nenhuma providência foi tomada. Não entendo como a prefeitura liberou este alvará”, indigna-se o morador, Diego Stering. Os moradores reclamam também da falta de privacidade, já que uma das entradas da instituição será por dentro do conjunto que conta com 570 apartamentos.

“É no mínimo contraditório, uma faculdade que está agregando o curso de Engenharia Ambiental desmatar um terreno para construir uma nova sede” revolta-se o síndico, Roberto Oliveira.
A secretária da faculdade, que se identificou apenas como Luana, informou que ninguém poderia falar sobre o assunto. No site oficial da Área 1 são encontradas poucas informações sobre a obra que conta com 90 trabalhadores.

Os moradores também reclamam dos pernilongos que estão se proliferando pelas redondezas. Eles alegam que o problema piorou após o desmatamento causado pela construção. “O esgoto que fica atrás do conjunto foi tapado recentemente pela iniciativa privada, ou seja, o problema tem sido minimizado, não são as obras que estão causando a proliferação dos mosquitos”, afirma o Vereador e Presidente da comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Salvador, José Carlos Fernandes. Em contradição ao vereador está um dos operários que trabalha na obra. Ele não quis se identificar, mas contou que nem os trabalhadores estão agüentando conviver com tantos mosquitos.


Bióloga teme os impactos que podem ser causados na região

Não são apenas os moradores do bairro do Imbuí que temem os prejuízos que podem vir a ser causados pela construção da nova sede da faculdade. Ambientalistas e biólogos também se preocupam com a situação. O Centro de Recursos Ambientais (CRA) é o órgão responsável por estudar os impactos que podem ser causados com o desmatamento nesses casos.

“A obra pode causar impacto na fauna, na flora, no solo e até mesmo em qualquer tipo de aqüífero, ou seja, lagos, lagoas, nascentes e lençóis freáticos que possa haver na região”, explica a gestora ambiental e doutoranda em Geologia, Cláudia Cruz.

Segundo a professora, deveria haver um remanejamento das espécies nativas do local, tanto da fauna, como da flora, pois sempre há espécies raras e até mesmo em extinção nestes resquícios de mata atlântica. “Já tive o desprazer de presenciar um tamanduá saindo do canteiro de uma obra na Avenida Paralela e atravessando a pista, isto prova que na há um remanejamento correto nestas regiões”, conta Cláudia Cruz.

A partir do primeiro semestre de 2008 as aulas já serão lecionadas no novo campus da Paralela. A Faculdade foi procurada para responder as críticas e reclamações dos moradores, mas resignou-se ao silêncio.

Foto Por > http://www.area1.br/